No passado dia 22 de março de 2025, teve lugar a sétima das "Conversas com a Arqueologia", na Livraria Lar Doce Livro, sita na rua de São João, em Angra do Heroísmo. "Arqueologia em contexto de obra - Quatro intervenções em Angra do Heroísmo" foi o título da tertúlia, mais uma, em torno das questões relacionadas com o como se faz e o como se deve fazer arqueologia, numa cidade Património Mundial nos Açores, questão essa, malogradamente, ainda tão pertinente.
Esta "Conversa" ficou a cargo de Luís Barbosa, arqueólogo açoriano, ainda por muitos desconhecido, mas de inegável golpe de asa, que cumpre o seu tirocínio entre profissional liberal e eterno enamorado das instituições com obrigações no âmbito do património cultural arqueológico, que o procuram seduzir. Ele, que para lá da licenciatura, fez um mestrado com distinção e, portanto, viu com naturalidade abrirem-se-lhe as portas no competitivo mercado de especialistas no Continente, que não quis. Por sonho ou teimosia, decidiu-se a regressar ao arquipélago, porque teima em ser agente ativo na procura de construir também uns melhoresAçores. E tal diz-nos muito do carácter do jovem aprendiz.
Apesar da inegável importância do tema da "Conversa", esta não foi particularmente participada,com assinaláveis vazios institucionais, nomeadamente naquelas organizações que têm obrigações - até legais - nesta área, mas que não obstou auma reflexão coletiva séria. E não é que lhes teria feito proveitonela participar e escutar?Que mais não fosse, até para entenderem as questões de quem está efetivamente no terreno.Mas nesse final de tarde e ao longo de uma hora, a apresentação passou, no início, por definir as áreas de interesse arqueológico da cidade de Angra do Heroísmo, entender-se o porquê destas e não de outras, os princípios legais que instituíram as Cartas de Risco (ainda por pôr na prática) e tão reclamadas por esses mesmos profissionais liberais, em todo o arquipélago. Depois, passou aos exemplos concretos, da quase mão-cheia de intervenções arqueológicas que pelos solos e subsolos da cidade já coordenou, detalhou os casos em que a defesa, a salvaguarda e a valorização dos bens culturais em si mesmos, não só demonstraram não dilatar os prazos das obras, como valorizaram os imóveis, enriquecendo os seus atuais proprietários. E como apenas se acredita no que se vê e sente, mostrou e demonstrou. Por fim, anunciou que se encontra em curso a intervenção de minimização de impactos arqueológicos no convento das Concepcionistas, imóvel absolutamente excecional e de importância singular, pois que se trata do primeiro convento daquela ordem religiosa, nascida em Espanha, mas fundada por uma portuguesa, no nosso país. Ficou, de igual modo, feito o desafio aos presentes para o acompanharem, ao vivo e a cores, nessa intervenção arqueológica, agora começada. Luís Barbosa, fiel ao princípio de que o património cultural arqueológico é para ser vivenciado por todos, deixou essaconvocação.
O propósito deste texto é tentar deixar testemunho do que se viveu em março e dar nota também do que se vai passar em abril, com a Conversa intitulada ""Pré-histórias" da arqueologia de Angra do Heroísmo", que será animada por Francisco Maduro-Dias, historiador, patrimonialista e museólogo sobejamente (re)conhecido, figura impar e incontornável. Ocorrerá na Livraria Lar Doce Livro, sita na rua de São João, em Angra do Heroísmo, no próximo dia 12 de abril, às 18.00h. E, estou em crer, será certamente memorável, pois que Francisco Maduro-Dias é um brilhante comunicador e sabedor, como poucos, do que significa realmente património cultural e arqueologia. E não é a amizade que lhe devoto, que me obriga a exagerar o que se lhe reconhece e o tanto que se lhe deve. Pois bem, ficam feitos o repto e o convite.Participa.
