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Carlos Pinheiro

O Mundo em Transformação

Vivemos tempos extraordinários, onde a política mundial ganhou contornos imprevisíveis, com figuras carismáticas e enredos que poderiam rivalizar com as mais complexas histórias. E, como em qualquer grande questão, há sempre um público atento e envolvido - afinal, são os eleitores que determinam os líderes que guiarão o rumo deste cenário global.
DonaldTrump tornou-se o ícone máximo do individualismo político, mas está longe de ser um caso isolado. O Brexit, essa brilhante demonstração de independência britânica, foi executado com a elegância de quem bate a porta depois de uma discussão acalorada, sem pensar muito no que vem a seguir. Já na Argentina, Javier Milei surge como o maestro de uma sinfonia ultraliberal, prometendo desmontar o Estado como se fosse um móvel do IKEA - fácil na teoria, desastroso na prática. E em França? A estabilidade governativa tornou-se um conceito quase nostálgico, com primeiros-ministros a caírem mais depressa do que conseguem decorar o endereço da residência oficial.
Nos Estados Unidos, o Congresso parece mais um ringue de luta livre, onde disputas partidárias fazem com que os interesses coletivos sejam frequentemente relegados para segundo plano. Prova disso foi a recente visita de VolodymyrZelensky à Casa Branca, que se transformou num episódio digno de tragicomédia. O presidente ucraniano, que chegou com expectativas de reforço no apoio militar, viu-se humilhado publicamente por DonaldTrump e o seu vice-presidente, que o trataram mais como um pedinte inoportuno do que como um líder em guerra. Com uma frieza calculada, Trump não só relativizou o apoio à Ucrânia, como insinuou que Kiev deveria "começar a pensar noutras soluções" - um eufemismo para rendição.
No Brasil, o jogo político parece uma dança coreografada ao ritmo de interesses individuais, enquanto a Hungria de ViktorOrbán continua a aperfeiçoar a arte de concentrar poder, com medidas que fazem da liberdade de imprensa e da independência judicial meras notas de rodapé. Na Rússia, Vladimir Putin aperfeiçoou o conceito de centralismo ao ponto de transformar eleições numa mera formalidade - um exercício de democracia com o desfecho já escrito. Na Turquia, Erdogan mantém a tradição do poder altamente centralizado, alternando entre presidente e primeiro-ministro como quem muda de fato, mas sem nunca largar as rédeas. E na China? Bem, a China continua a ser a China - onde o Partido Comunista, com a serenidade de um monge budista, mantém o controlo absoluto sobre cada aspeto da vida política e social.
E o que une todos estes casos? Um sentimento generalizado de frustração e um desejo desesperado de mudança - ainda que essa mudança, muitas vezes, se pareça mais com um salto de fé sem paraquedas.
Mas há uma questão essencial: a política não se desenrola no vazio. Os líderes que hoje ocupam o poder não apareceram por magia - foram escolhidos. E escolhidos por quem? Por nós, os eleitores, que, fartos de promessas ocas e políticas ineficazes, começámos a flertar com soluções radicais. Talvez pelo fascínio do novo, talvez por puro desespero.
Se o mundo político parece uma novela de reviravoltas inesperadas, é porque, no fundo, reflete a vontade popular. Cada voto, cada decisão, cada escolha contribui para este grande guião coletivo. E a verdade, por mais desconfortável que seja, é que este espetáculo não foi escrito ao acaso. É apenas o reflexo daquilo que, consciente ou inconscientemente, decidimos a cada ida às urnas.

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