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As fajãs são dos jorgenses

O controlo do acesso à Fajã de Santo Cristo, que agora se pretende, é uma necessidade absoluta. Só quem não conhece São Jorge e a fajã em causa é que pode estranhar tal medida - que, aliás, só peca por tardia. Parece evidente que a carga humana no local já ultrapassou todos os limites e por isso cabe às autoridades tomar medidas que possam salvaguardar o habitat e o ecossistema, os dois bastante frágeis. Aliás, as fajãs de São Jorge, autênticos paraísos, começam a sentir no geral o impacto de uma presença humana excessiva, que já se traduz, mesmo, em impactos inaceitáveis, com destaque para a construção de resorts para turistas, coisa que deveria ser impensável, mas que está a acontecer. Quem frequenta as belíssimas fajãs jorgenses apercebe-se do impacto da carga humana e vê-se limitado no acesso a determinados locais que começam a ser privilégio dos "sagrados" turistas. É claro que quem é prejudicado são os indígenas - de São Jorge em primeira linha e depois dos Açores.
Ora, limitar o acesso às fajãs de São Jorge e à Fajã de Santo Cristo em especial, sendo uma necessidade, deve, porém, ser uma medida bem ponderada. É que os jorgenses não podem ser prejudicados no acesso a qualquer parte da sua ilha, desde a ponta do Topo à Ponta dos Rosais. Depois surgem os restantes açorianos, que também devem ser protegidos no acesso ao território açoriano, que inclui as fajãs de São Jorge. Qualquer limitação deve ser imposta aos turistas, nacionais (de fora dos Açores) ou estrangeiros. Um jorgense nunca poderá ser considerado um turista na sua terra e um açoriano nunca será um turista nos Açores. Este princípio deve ser sagrado. É preciso perceber que limitar o acesso aos indígenas equivale a construir prioridades no âmbito das quais o turista está em primeiro lugar e quantos às populações locais, servem... para servir, de preferência à mesa. Não nos agrada viver numa terra que tenha esses valores.
O turismo já está a causar estragos suficientes nos Açores. O peso dessa indústria perigosa já equivale a 17 por cento do PIB - Produto Interno Bruto. Os salários praticados são muito maus, a sazonalidade do trabalho é mais do que evidente... Os coeficientes de desigualdade são galopantes, o que significa que a riqueza está mais do que mal distribuída. Ou seja, uns, poucos, comem tudo, e para os outros sobram migalhas, se tanto. São males suficientes instalados num tempo bem curto, que é o tempo do boom do turismo nos Açores. A cereja em cima do bolo seria limitar o acesso dos indígenas, que somos nós, a locais na nossa própria terra, dando prioridade aos turistas ou mesmo pondo estes a concorrer connosco.

Editorial
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