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Joe Lima, artista plástico

"Trabalhar
na Terceira
é como trabalhar
dentro de um sonho"


 Joe Lima. "A arte hoje em dia tem o papel de informar o espectador sobre realidades que podem alterar a própria existência"

Joe Lima, pintor e escultor natural de São Miguel, trabalha e vive em Montreal e esteve na Carmina Galeria para uma residência artística. Resultou uma exposição, patente até 19 deste mês.

Como foi a experiência da residência artística na Terceira, promovida pelo Museu de Angra?
Para mim, foi a tranquilidade do lugar. A natureza dos Açores é muito forte e poderosa, mas ao mesmo tempo tranquila e pacífica. Essa realidade inspirou-me a criar sem hesitação. Também a forma como fui recebido pela equipa do Museu de Angra do Heroísmo foi incrível, conhecer artistas e criar novos contatos foi muito importante. O espaço onde trabalhei era excecional. Trabalhar sozinho num espaço tão grande, num cenário lindo, permitiu que ideias e imagens fluíssem naturalmente, permitindo-me criar um grande corpo de trabalho num período de tempo tão curto.Trabalhar na Terceira é como trabalhar dentro de um sonho, onde o esperado se torna inesperado. A mudança constante do clima, o verde, o oceano, a personalidade das pessoas. Tudo isso foi absorvido pelo meu subconsciente, o que alimentou minha criatividade.


 Arte. Joe Lima defende que Angra tem potencial para ser um centro cultural único

O que nos diz hoje em dia a arte sobre a existência humana?
A arte está sempre em constante mudança. A nossa existência contemporânea está na era da confusão, onde informações e imagens em massa são sempre apresentadas de tantas fontes diferentes, portanto, existimos na era do pluralismo. Acho que é difícil para o artista alcançar uma interpretação pessoal da sua existência entre ataques de influências externas, que confundem e distraem da busca pessoal.A existência humana, pela primeira vez, está em perigo devido a coisas como as mudanças climáticas. O papel do artista neste caso é abordar esta questão da forma mais clara possível por meio de um processo criativo. A arte hoje em dia tem o papel de informar o espectador sobre realidades que podem alterar a própria existência. Outra questão que considero muito importante é a inteligência artificial, que acho que confunde o processo real da experiência humana, dificultando a distinção entre o que é real e o artificial.A arte para mim tem que evoluir com a nossa existência contínua e tem que contribuir o máximo possível para o mundo do real que nos cerca e alertar o público sobre o perigo de influências externas que podem destruir a liberdade de expressão artística.

Angra e as artes
"Sinto uma grande paixão em contribuir para a cultura da ilha e torná-la reconhecida no mundo exterior. Sinto que a cidade de Angra é uma das cidades mais bonitas dos Açores e um ótimo cenário para os artistas criarem e, por isso, tem o potencial de ser um centro cultural único"

É diferente olhar para esta questão do ponto de vista de uma ilha?
Geograficamente, acho que sim. Quando estive em Terceira, senti-me afastado do mundo exterior. Embora Terceira esteja ligada pela Internet ao mundo exterior, a realidade da sua localização dá-lhe uma identidade especial. Existindo numa ilha e rodeado por um oceano enorme, sentimo-nos afastados de relevos muito distantes. Como artista, sente-se uma sensação de libertação para inventar algo único, longe de influências que nos podem distrair.O oceano também desempenha um papel importante. A realidade de viver tão perto deste imenso e sempremutável corpo de água afeta a forma como nos vemos, estamos ligados, mas ainda assim tãoremovidos. A terra e a água estão a interagir, isto desempenha um papel enorme na vida das pessoas.Foi isso que senti ao trabalhar na ilha, sentir a proximidade do oceano e depois olhar para ohorizonte e ver um vasto espaço do desconhecido.

Encontrou intensidade cultural e artística na ilha?
Sim. Tive a sorte de estar aqui durante o Carnaval. Fiquei muito impressionado com a música e as atuações teatrais, muito coloridas e com um ótimo senso de humor. Também tive a sorte de assistiràs exposições no Museu Angra de Heroísmo, encontrando uma grande diversidade de talentos. Grandes discussõesforam tidas com artistas e funcionários do Museu. Sinto uma grande paixão em contribuir para a cultura da ilha e torná-la reconhecida no mundo exterior. Sinto que acidade de Angra é uma das cidades mais bonitas dos Açores e um ótimo cenário para os artistascriarem e, por isso, tem o potencial de ser um centro cultural único.

O percurso
"Museus e bibliotecas eram aminha igreja, pois era lá que eu encontrava a ligação com o mundo natural. Era fascinado com a forma como os artistas conseguiam interpretar o mundo complexo por meio de cor, luz e forma. Depois desse período, comecei a desenhar o tempo todo e decidi que a arte seria meu foco"

Que laços mantém com os Açores? Como observava esses laços na sua família?
Eu nasci em São Miguel, a nossa família deixou a ilha em 1967. Eu tinha apenas três anos de idade. Os meus pais, especialmente a minha mãe, sempre mantiveram uma ligação próxima com as suas raízes. Elaestava sempre a falar sobre a sua ilha, as festas, a música e o seu amor pela natureza. Ela nãotinha uma conexão completa com o Canadá. Como todos os imigrantes, os seus pés estão num país diferente, mas o seu coração está no país deixou. A minha mãe era muito artística e uma ótima contadora de histórias, o quealimentou a minha curiosidade. Ela foi capaz de criar uma história visual da sua terra natal e, por isso,despertou a minha imaginação sobre este lugar no meio do Atlântico.Quando visitei os Açores pela primeira vez, senti uma ligação imediata com o lugar, depois de anos a ouvir as memórias da minha família. Voltei muitas vezes aos Açores e sinto que é um lugar queme inspira a criar por causa da sua beleza e presença misteriosa. Já expus quatro vezesna Terceira na galeria Carmina e de cada vez a experiência foi diferente. O trabalho sempregirou em torno da imensa diversidade da ilha. A paisagem, a arquitetura e o folcloretiveram um grande impacto nas imagens que eu criaria. Às vezes, sem estar conscientedisso, as ilhas dos Açores tiveram uma profunda influência no meu trabalho. Durante a residência, oprocesso de trabalho pareceu fluir facilmente. Parecia que eu sabia exatamente o que tinha que fazer porqueas imagens já estavam dentro de mim.


 Joe Lima.Trabalho "Turbulence in the Great Hall"

Quando e como se iniciou o seu interesse pelas artes?
Eu interessei-me pelas artes quando era muito jovem. Costumava ir a bibliotecas para ver e ler livrosde arte. Perdia-me no mundo das pinturas, desenhos e esculturas. Museus ebibliotecas eram a minha igreja, pois era lá que eu encontrava a ligação com o mundo natural. Era fascinado com a forma como os artistas conseguiam interpretar o mundo complexo por meio de cor, luz e forma. Depois desseperíodo, comecei a desenhar o tempo todo e decidi que a arte seria meu foco. A capacidade de observar e registar é uma liberdade única. A recompensa para mim sempre foi a misteriosaconexão entre o eu e a natureza. É um caminho que venho seguindo há 50 anos. Essabusca ainda é uma grande parte da minha existência depois de todos esses anos. Ainda estou surpreso face a como a arteresponde a tantas perguntas difíceis sobre o nosso lugar no universo.

Vivemos num mundo turbulento. Ainda é lugar dos artistas fazerem perguntas?
Os artistas sempre precisam de fazer perguntas. Eles fizeram isso no passado e precisam de fazer isso hoje. Vivemos numa era em que a confiança foi corroída. Mentiras estão a tornar-se verdade. Vemos isso nos mediae nos governos. O papel do artista é guiar o espectador para uma realidade alternativa ondese pode encontrar um espaço para meditar e encontrar refúgio de um mundo de incerteza e medo.Sinto que os artistas também devem envolver-se diretamente com questões que os perturbam e perturbam o seu processo criativo. Eles não precisam ser políticos, mas acho que devem abordar complexidades queafetam-nos a si mesmos e à civilização como um todo. Às vezes, a arte irá fazer as pessoas sentirem-se desconfortáveis,??seretratar o mundo como ele realmente é, mas isso deve ser feito para tornar-nos conscientes das forças que podemimpedir a liberdade de expressão.

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