D. Armando Esteves Domingues. "Um cabido não é conservador ou progressista"
Diocese. D. Armando Esteves Domingues afirma que cónegos tiveram peso nos movimentos políticos ao longo da história da Região.
O Bispo de Angra, D. Armando Esteves Domingues, defende que "os cónegos da Igreja açoriana tiveram uma influência significativa nos movimentos políticos ao longo da história do arquipélago, atuando em várias frentes, sobretudo nos momentos de crise".
D. Armando Esteves Domingues explorou a ideia, quarta-feira, numa conferência de abertura da exposição "O Cabido Atlântico de Angra: fronteira da expansão da fé e da Coroa", patente na Biblioteca Pública e Arquivo Regional Luís da Silva Ribeiro, em Angra do Heroísmo.
"É sobretudo em momentos de sede vacante que o cabido desempenhará um papel mais relevante", afirmou o Bispo.
"É mais visível aquando da 'União Ibérica' e movimento restauracionista (1580-1640). Muitos cónegos desempenharam um papel ativo na mobilização da população em torno da causa da independência, utilizando a sua influência espiritual para galvanizar apoio e encorajar a resistência ao domínio espanhol. Durante as guerras liberais do século XIX, alguns cónegos posicionaram-se a favor de um dos lados do conflito, refletindo as divisões políticas da época. Esse envolvimento teve um impacto direto nas tensões sociais e na dinâmica política local", prosseguiu.
Segundo o Bispo de Angra, "o mesmo se passou com a implantação da República, demonstrando que os cónegos da Igreja açoriana não apenas atuaram como líderes espirituais, mas também como figuras centrais em movimentos políticos e sociais, moldando a história e a evolução do arquipélago ao longo dos séculos".
"É o caso de José da Fonseca Abreu Castelo-Branco (1829-1901): professor do Seminário Episcopal de Angra, deão da Sé Catedral e Promotor Geral do Bispado. Destacou-se como deputado em várias legislaturas e foi um dos líderes do movimento autonómico no Distrito de Angra do Heroísmo. Aderiu ao liberalismo. Chegou a defender teses republicanas e a independência dos Açores. Foi deputado às Cortes, eleito pelo círculo de Angra do Heroísmo em várias legislaturas. Foi presidente da Comissão Autonómica do Distrito de Angra do Heroísmo, em 1894, durante o Primeiro Movimento Autonómico", exemplificou D. Armando Esteves Domingues.
Biblioteca
inaugurou
mostra
sobre o tema
Destacou que, nos tempos mais recentes, a Câmara Municipal de Angra do Heroísmo distinguiu os cónegos João de Brito Meneses, Hélder Fonseca de Sousa Mendes e Francisco Dolores, pelo papel desempenhado na comunidade.
"De assinalar ainda alguns membros como Monsenhor José Avelino Bettencourt (1962). Natural das Velas de São Jorge, foi nomeado cónego honorário da Sé de Angra em 2015. Com uma carreira diplomática no Vaticano, serviu como chefe do protocolo da Secretaria de Estado do Vaticano. Atualmente é Núncio apostólico nos Camarões e na Guiné Equatorial desde 2023", recordou.
D. Armando Esteves Domingues assinalou que a relevância dos cabidos continua a ser debatida na atualidade. "O seu papel principal é o de manter a dignidade das celebrações litúrgicas mais solenes na catedral, ser conselheiro ao lado dos novos órgãos consultivos nascidos da eclesiologia do Concílio Vaticano II, cuidar com o pároco e paróquia da Sé do património artístico, espólio dos bispos e Museu da Sé. Outro horizonte a não perder de vista, será o de preservar o património espiritual que nos faz ser Diocese viva e com uma história", precisou.
Sustentou que "um cabido não é conservador ou progressista".
"Não é de ontem ou de amanhã. É de hoje, o hoje da Igreja de Cristo, que nos continua a garantir a assistência do Espírito Santo nos caminhos a seguir", frisou.
A exposição, que pode ser visitada até 13 de setembro, avança numa altura e que a cidade e Diocese de Angra celebram 490 anos de fundação.
